quinta-feira, 25 de agosto de 2011

De origem na luta armada, Partido da Pátria Livre dá primeiros passos

Enquanto o Partido Social Democrata, criado pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, faz barulho para nascer, uma outra legenda de feição ideológica diferente já quer dar os primeiros passos. Quase sem alardes na mídia, o Partido da Pátria Livre – é esse mesmo o nome –, está mais perto de se consolidar que o PSD, que enfrenta pedidos de impugnação na Justiça Eleitoral. No Brasil, eles já contam com 500 mil assinaturas e constituíram diretórios em 20 estados – 11 a mais que o exigido pela legislação eleitoral.

O PPL, cujo nome faz a mente buscar referências em outras siglas existentes, como plano de cargos e carreiras ou plano plurianual, tem DNA no Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR8), surgido em 1964. A legenda é mais uma entre as 20 que tentam conseguir registro no TSE para concorrer às eleições de 2012, mas é no mínimo curiosa.

Apesar de o MR8 ter raízes numa organização política socialista que combatia a ditadura militar e defendia a luta armada, o PPL de hoje tem muitos jovens – pelo menos em fotos que exibe na internet. A presidente dos “livres” em Pernambuco chama-se Edna Costa, que saiu do PSB em 2009 para criar, num trabalho formiguinha, uma legenda de perfil um pouco mais esquerdista. Com apoio de antigos e novos companheiros, ela conseguiu 15 mil assinaturas no estado, na última sexta-feira passada, e já levou para o TRE.

“As pessoas não acreditavam, mas o partido já foi autorizado pela Justiça Eleitoral”, disse Edna, orgulhosa. Ela ainda contou que, há três anos, não saiu do PSB por problemas políticos. “Tenho simpatia por muitas lideranças do PT e do PSB, mas resolvi participar de uma nova legenda porque, em toda minha vida, há mais de 30 anos, militei no MR-8. Esse movimento tem tradição, eu vivi e resolvi legalizá-lo, com outras bandeiras”, justificou.

Edna Costa não defende a revolução por meio de luta armada, como no passado. Ela frisa que a essência da nova sigla é “a defesa da soberania nacional”, o que passa pela liberdade econômica do país. “Nossa bandeira está com os trabalhadores, os negros, a juventude…” enumerou. “Não nascemos tão silenciosamente, apenas as pessoas não nos deram atenção, como dão ao PSD”, pontuou.

A presidente do PPL lembra que a nova legenda tem CNPJ e site na internet. Um momento diferente do vivido pelo PSD de Kassab, que enfrentou problemas nesses dois pontos na Justiça Eleitoral. Inclusive quando se digita a palavra “PSD” em sites de busca na internet, a pesquisa vai para um endereço eletrônico cujo líder fala em português, mas é de Coimbra, em Portugal. As buscas não levam imediatamente a Kassab, mas a Pedro Passos Coelho, que nasceu em 1964, no norte de Portugal. Um oceano de distância.

Semelhanças e diferenças com o PSD

O Partido da Pátria Livre realizou o 1º encontro para demarcar os espaços políticos no estado no final de julho. O lugar da estreia partidária foi no mínimo inusitado, se a comparação for feita com ideais do MR8 da década de 1960, que se inspirava no guerrilheiro cubano Che Guevara. O grupo se reuniu em um hotel luxuoso em Piedade, em Jaboatão dos Guararapes. Não houve patrulhas ideológicas ou críticas por causa da escolha do local. Mas os tempos são outros.

As armas de fogo foram aposentadas na política brasileira. O novo PPL apoia o governo Dilma Rousseff (PT) e a gestão do governador Eduardo Campos (PSB). É nesse ponto, curiosamente, que a legenda se parece com o PSD de Kassab, que tem origem no PFL, tão criticado pelas lideranças socialistas durante o período militar.

As semelhanças de pujança, contudo, param por aí. Enquanto o PPL ensaia os primeiros passos, sem atrair lideranças expressivas com mandatos, o PSD, comandado no estado pelo ex-deputado federal André de Paula, segue caminho inverso. De acordo com André, a perspectiva do PSD é filiar mais de 10 prefeitos e 200 vereadores em Pernambuco quando a legenda obtiver registro no Tribunal Superior Eleitoral, o que precisa acontecer no máximo até o dia 7 de outubro.

“Segunda-feira, encerrou o prazo para pedidos de impugnação”, disse André. Segundo ele, os partidos que estão contestando a legalidade do PSD na Justiça são justamente os que estão perdendo quadros para a nova legenda, como o PTB e o DEM. Ele citou que um dos motivos para tentar impugnar o PSD foi o fato de o partido ter feito atas semelhantes na convenção de todos os estados, 25 ao todo. “Eles estão exercendo o jus esperneandi, que significa direito de espernear”, ironizou.

De acordo com André de Paula, todas as atas foram iguais, porque seguiu-se um padrão no Brasil inteiro para facilitar. “No Rio Grande do Norte, por exemplo, terra do presidente nacional do DEM, José Agripino, todas as atas foram absolutamente iguais”, explicou o ex-deputado, que em 2008 foi candidato a vice de Mendonça Filho (DEM) para prefeito do Recife.

André de Paula ainda contou estar entusiasmado com a criação do novo partido, que possibilitou a sua aproximação com o governo Eduardo Campos. “Estamos tentando legalizar o partido há uns três meses e o crescimento é extraordinário. Só não estamos presentes no Rio Grande do Sul e no Amapá”, declarou.

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